top of page

QUAL A IMPORTÂNCIA DO(A) BIÓLOGO(A) PARA A SOCIEDADE?

XAVIER, Josilda B. L. M.[1]

Universidade do Estado da Bahia – UNEB


Ao definirmos uma profissão, considerando que será exercida ao longo de toda a nossa vida, entendemos que sua escolha deve partir, acima de tudo, pelo desejo de estarmos escolhendo algo que nos garanta nossa sobrevivência com dignidade e, ao mesmo tempo nos dê prazer em exercê-la. Nesse contexto, ser bióloga/biólogo está entre as profissões onde o amor pela natureza (animais e plantas), é a primeira justificativa a ser dada para a sua escolha.

Por outro lado, o estudo das Ciências Biológicas (licenciatura ou bacharelado) que tem como característica principal a sua alta complexidade, exigindo de todos que enveredam por essa surpreendente área, o desenvolvimento de competências e habilidades que distinguirão as biólogas/os biólogos em sua profissionalidade, quais sejam:


Ø Sensibilidade aguçada para observar o ambiente em sua totalidade e especificidades, de modo que seja possível relacionar os diversos aspectos que envolvem as espécies nos diversos contextos (biomas, ecossistemas, relações ecológicas etc.);


Ø Compreensão da organização sistêmica da Terra, permitindo que durante a realização de suas pesquisas e/ou ações educativas, seja capaz de refletir e relacionar sobre as diversas conexões fisiológicas existentes entre as espécies, incluindo a espécie Homo sapiens (humanos);


Ø Capacidade de conduzir suas ações / relações com os outros organismos, com os humanos e com o ambiente, tendo como suporte basilar as premissas da Ética e da Bioética.


O reconhecimento normativo dos profissionais Biólogos ocorreu em 03 de setembro de 1979 com a sanção da Lei Federal nº 6.684, que no Capítulo I - Da Profissão de Biólogo, em seu Art. 1º, define que:


O exercício da profissão de Biólogo é privativo dos portadores de diploma devidamente registrado, de bacharel ou licenciado em curso de História Natural ou de Ciências Biológicas, em todas as suas especialidades ou de licenciado em Ciências, com habilitação em Biologia, expedido por instituição brasileira oficialmente reconhecida. (CRBio01, 2016).


Segundo a CRBio01 – Conselho Regional de Biologia 1ª Região -, a criação da profissão de Biólogo, envolveu processos políticos descritos no tempo histórico descritos abaixo:


· 1934 – Criado o curso de História Natural na Faculdade de Filosofia da USP - primeiro curso de Ciências Biológicas;

· 1963 – O curso de História Natural é desmembrado em Ciências Biológicas e Geologia;

· Década de 1970 - Diversos biólogos são multados pelos Conselhos Regionais de Engenharia e Arquitetura (CREAs) sob alegação de prática de diferentes atividades sem a devida autorização e/ou regulamentação;

· 1970 – Associação Brasileira de Biólogos e a Associação Paulista de Biologistas enviam ao Ministério do Trabalho minuta de Projeto de Lei para Regulamentação da Profissão de Biólogo;

· 1979 – Após um período de quase 10 anos de tramitação no Congresso Nacional, em Brasília, o Projeto de Lei dos Biólogos e Biomédicos entra na pauta legislativa e é aprovado;

· A partir do dia 3 de setembro de 1979, a nova Lei Federal, de número 6.684, é publicada no Diário Oficial da União, e oficializa a profissão de Biólogo.

· Desde então, o dia 3 de setembro, é comemorado o Dia do Biólogo.


No nosso dia a dia, muitas questões que envolvem a vida cotidiana dos humanos, nos mais diferentes lugares do nosso planeta, têm exigido que biólogas e biólogos (licenciados e/ou bacharéis), reflitam sobre problemas fundamentais para a continuidade da existência da vida na Terra, inclusive o conjunto dos seres que compõem o grupo Homo sapiens – a humanidade.


Entre tantas situações-problemas que se apresentam e desafiam biólogas e biólogos relacionadas à epistemologia do conhecimento científico, às pesquisas nas diversas áreas das Ciências Biológicas (Botânica, Zoologia, Genética, Fisiologia e Anatomia Animal e Vegetal, Genética, Imunologia, Parasitologia, Saneamento Básico etc.), bem como a formação /educação das pessoas numa perspectiva bio-sócioambiental, é possível citar:


# Mudanças climáticas / Aquecimento global

# Desmatamento / Incêndios florestais

# Poluição da atmosfera, solo, rios, lençóis freáticos, mares e oceanos

# Extinção de espécies vegetais e animais

# Proliferação de doenças causadas por microrganismos (vírus, fungos e bactérias)

# Manipulação genética / Bioengenharia

# Etc.

Diante do exposto, é possível considerar como sendo “ingenuidade” ou má-fé daqueles(as) que defendem serem os conteúdos de Biologia, dispensáveis na Educação Básica, especialmente no Ensino Médio (nova BNCC-Ensino Médio), determinando que os estudantes não precisam ter acesso, obrigatoriamente, aos conhecimentos constituintes das Ciências Biológicas.


Sobre esse aspecto Lisboa; Braga (2021), nos lembram que


Esse padrão converge com os pressupostos de uma educação mais tecnicista, superficial e pragmática, que visa favorecer os critérios da globalização. Visto que a educação básica brasileira, nos moldes atuais, objetiva formar cidadãos com habilidades e competências para a execução de atividades pouco complexas, a formação inicial dos professores parece seguir o mesmo caminho. Além disso, na perspectiva do neoliberalismo, a educação se volta para a produtividade e enfoca a preparação para o mercado de trabalho. (Grifo nosso)


Diante do argumento acima e considerando o que já foi explicitado em relação às questões que dizem respeito, inclusive, a continuidade da vida na Terra, é necessário refletirmos sobre a importância dos profissionais em Biologia (licenciados e bacharéis), no que diz respeito às pesquisas nas áreas das Ciências Biológicas e suas aplicações práticas e educacionais.


Nesse sentido, cabe aos professores não somente de Ciências e Biologia, mas de todas as áreas, lutarem pelos seus lugares na sociedade, e assumir a práxis social na perspectiva da transformação da sociedade, a fim de promover dentro de sala de aula a conscientização dos cidadãos através do exemplo e do discurso (CAMPELO, 2021. (Grifo nosso)

No que se refere às atuações profissionais de biólogas e biólogos BACHARÉIS, de acordo com o estabelecido na Resolução nº 227/2010, de 18 de agosto de 2010, estas estão sob sua regulamentação e estabelecidas nas áreas discriminadas abaixo:


1. Meio Ambiente e Biodiversidade: Arborização Urbana, Auditoria Ambiental, Bioespeleologia, Bioética, Bioinformática, Controle de Vetores e Pragas, Curadoria e Gestão de Coleções Biológicas, Científicas e Didáticas, Educação Ambiental, Fiscalização/Vigilância Ambiental, Gestão Ambiental, Responsabilidade Socioambiental, Restauração/Recuperação de Áreas Degradadas e Contaminadas, Saneamento Ambiental, Treinamento e Ensino na Área de Meio Ambiente e Biodiversidade, entre outras atuações. (Ver a íntegra de todas as ações no site do CFBio.gov.br)


2. Saúde: Análises Citogenéticas, Análises Citopatológicas, Análises Clínicas, Gestão de Bancos de Células e Material Genético, Perícia e Biologia Forense, Saneamento Saúde Pública/Fiscalização Sanitária, Saúde Pública/Vigilância Ambiental, Saúde Pública/Vigilância Epidemiológica, Saúde Pública/Vigilância Sanitária, entre outras atuações. (Ver a íntegra de todas as ações no site do CFBio.gov.br)


3. Biotecnologia e Produção: Biodegradação, Biologia Molecular, Bioprospecção, Biorremediação, Biossegurança, Desenvolvimento e Produção de Organismos Geneticamente Modificados (OGMs), Desenvolvimento, Produção e Comercialização de Materiais, Equipamentos e Kits Biológicos, Treinamento e Ensino em Biotecnologia e Produção. (Ver a íntegra de todas as ações no site do CFBio.gov.br)

Em relação às atuações de biólogas e biólogos LICENCIADOS(AS), além da possibilidade das atuações acima explicitadas, tem, de forma simultânea, sua formação e atuação principal direcionada para a formação de pessoas capazes de refletir sobre seu vínculo com o ambiente no qual se inserem, bem como colaboram e apoiam ações que permitam a preservação/conservação do ambiente e a manutenção da vida correlacionando com seu estilo de vida (KRAHENBUHL, 2010).


Consequentemente pode-se afirmar que esta/este profissional em questão, professor(a) de Ciências e Biologia, possui uma gama de responsabilidades e compromissos ético/bioéticos para com a sociedade e o ecossistema terrestre, definindo, portanto, que o exercício de suas atividades didática-pedagógica-científicas poderá repercutir na permanência/conservação das espécies, ainda existentes, que povoam os diversos ecossistemas; na manutenção e preservação do equilíbrio biogeoquímico-físico do sistema terrestre; e, como consequencia, na continuidade e melhoria da qualidade de vida socioambiental humana na Terra.


Melo, Carvalho e Guimarães (2017) destacam que os estudos realizados sobre a profissão de biólogo(a) constataram que devido à sua formação multidisciplinar, este profissional tem encontrado cada vez mais espaço no mercado de trabalho, abrangendo várias áreas biológicas, que consequentemente concorrem com outros profissionais com formação mais específica (biomédicos, bioquímicos e veterinários), além de constituírem papel fundamental na formação e manutenção do pensamento crítico.


Enquanto biólogo(a) licenciado(a) é preciso ter a dimensão de sua responsabilidade para com a formação da sociedade, estando atento(a) para o nível, ampliação e profundidade dos argumentos usados em sala de aula, de modo a contextualizar os diversos conteúdos das Ciências Biológicas trabalhados na Educação Básica e Educação Superior.


O(a) biólogo(a) licenciado, professor(a) de Ciências e Biologia, deve se perceber como o(a) mediador(a) no processo de ensino-aprendizagem, pois o “conteúdo será colocado como problematização, para que o aluno possa raciocinar, propor suas hipóteses explicativas e, assim, construir seu próprio conhecimento” (CARVALHO, 2011), possibilitando a condução do processo em forma de ensino por investigação, de modo a promover a Alfabetização Científica, “entendida como a correlação dos fenômenos naturais e cotidianos dos indivíduos com seu conhecimento científico, buscando, a partir dessa conexão, melhorar a relação com o mundo onde vivem”. (ANDRADE; ABÍLIO, 2018). (Grifo nosso)

Ser bióloga / biólogo (licenciado e/ou bacharel) é ter a ousadia de se colocar no mundo à serviço do planeta e de todos os seres que nele habita. É estar atenta(o) aos diversos aspectos que constitui a vida em sua multidiversidade: ética, estética, política, econômica, social, cultural, biológica e ambiental.


Nesse contexto, para homenagear a todas / todos os biólogos(as), selecionei um pequeno trecho do livro “E se Obama fosse africano?”, do biólogo, poeta e escritor moçambicano, Mia Couto (2011), que, com imensa sensibilidade, expressa toda ousadia se colocar como um ser sonhável :


Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país.

Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo.

Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto.

Não sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos.

Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas.

Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade.

Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas.

Nesse território, eu não tenho apenas sonhos.

Eu sou sonhável.




[1] Docente do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, UNEB/DEDC/CAMPUS VIII. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0838920937933125



REFERÊNCIAS


ANDRADE, Maria José Días de; ABÍLIO, Francisco José Pegado. Alfabetização Científica no Ensino de Biologia: Uma Leitura Fenomenológica de Concepções Docentes. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências – RBPEC. 18(2), 429–453. Agosto 2018 Disponível em: https://periodicos.ufmg.br/index.php/rbpec/article/view/4726/3018


CAMPELO, C. L. F. BNCC e formação de professores de Ciências e Biologia: base para aprimoramento do ensino e desenvolvimento de professores? In: VIII Encontro Nacional de Ensino de Biologia (ENEBIO), 2021, p. 1877-1886. Anais [...]. Disponível em <10.46943/VIII.ENEBIO.2021.01.134>.


CARVALHO, A.M.P. Formação de professores de Ciências: Tendências e inovações. 10ª ed. São Paulo: Cortez, 2011.


CFBio. Conselho Federal de Biologia. Autarquia Federal de Fiscalização Profissional. Disponível em: https://cfbio.gov.br/


CRBio01. Lei Nº 6.684, de 3 de setembro de 1979. Resoluções que dispõem sobre responsabilidade técnica (TRT)… 2016. Disponível em: https://www.crbio01.gov.br/media/view/2016/08/lei_n_mero_6.684-79_495.pdf


COUTO, Mia. E se Obama fosse africano?: e outras intervenções. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.


KRAHENBUHL JL. Educação ambiental. Rev. BioBrasilis, v.1, n.1, p.17-20, 2010.


LISBOA, Carolina Almeida; BRAGA, Isabela Carolina Silva Vieira. Reformas Curriculares e Ensino de Ciências e Biologia: o que dizem professores(as) da rede pública de Educação Básica. Universidade de Brasília, Instituto de Ciências Biológicas, Núcleo de Educação Científica – NECBio. Brasília, DF. 2021. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/29993/1/2021_CarolinaLisboa_IsabelaBraga_tcc.pdf


MELO, Larissa Leonilda Pereira; CARVALHO, Aluísio Vasconcelos de; GUIMARÃES, Ana Paula Martins. A interdisciplinaridade da profissão Biólogo. Sustenere Publishing Corporation, Jul, Agost, Set, Out, Nov, Dez 2017 - v.1 - n.1. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/326023534_A_interdisciplinaridade_da_profissao_biologo


78 visualizações0 comentário
bottom of page