Dia da Terra & Cúpula do Clima. Repensar o modo de vida humano, urgente!
Atualizado: 26 de abr. de 2021
XAVIER, Josilda B.L.M.[1]
Hoje, 22 de abril, é consagrado como o DIA DA TERRA. Você sabia?
A preocupação com a defesa da nossa casa maior, a Terra, tem sido manifestada há mais de 50 anos, e concretizada na primeira conferência internacional sobre o meio ambiente, a Conferência de Estocolmo (Suécia), em 1972, que teve como objetivo sensibilizar os líderes mundiais sobre os problemas ambientais, causados pelo modo de vida humano, implementado pelo capitalismo, sistema econômico que vige em quase todos os países do Ocidente e, de forma perversa, na América Latina.

As invasões colonialistas realizadas por países europeus (Inglaterra, França, Holanda, Portugal), erroneamente chamadas de “descobrimentos”, se caracterizaram por usurpações que, segundo Castro (2020), produziram a “captura privada de grandes áreas, através de modelos agrários excludentes e concentradores, pautados pela destruição generalizada da natureza e das pessoas”. Essas usurpações se concentraram sobre as riquezas naturais: madeira, ouro, pedras preciosas, terras etc., e promoveram a devastação de milhares de hectares de floresta, principalmente a Mata Atlântica, contribuindo para o desaparecimento de várias espécies que “foram exploradas até a extinção, como por exemplo a tapinhoã, sucupira, canela, canjarana, jacarandá, araribá, pequi, jenipaparana, peroba, urucurana e vinhático” (IBF, s/d; SAMPAIO, 2013). (Grifo nosso)
Entre as centenas de espécies de árvores existentes na Mata Atlântica, os colonizadores “portugueses, por um critério estritamente comercial, decidiram explorar a ibirapitanga (nome dado pelos tupis à árvore de madeira vermelha, que utilizavam para tingir fibras de algodão) presente no litoral do Rio de Janeiro até Pernambuco, tanto nas partes maduras da floresta como nas áreas secundárias, sendo batizada de pau-brasil (Paubrasilia echinata) pelos comerciantes, que logo nomearia a própria colônia portuguesa” (DEAN,1996 In BARRETO, 2017), levando essa espécie, tão representativa, quase a extinção.

A exploração predatória dos recursos naturais e a devastação dos Biomas Brasileiros, infelizmente não acabaram, e o período colonialista, se perpetua, metamorfoseado nas ações expansionistas do agronegócio, para que a criação de gado bovino e do cultivo da soja se expandam, de modo a atender às necessidades de outros países em alimentarem sua população. Para tanto, é preciso que mais florestas sejam derrubadas.
Os povos originários da Floresta Amazônica, nos últimos anos, estão sofrendo a dor de ter que assistir árvores sendo derrubadas por motosserras ou tratores com correntes, e / ou incendiadas, sem que nada possam fazer.

Para além da criação de gado e da monocultura da soja, há outro tipo de devastação do Bioma Amazônia: a mineração. Hauradou e Amaral (2019), destacam que a presença [das] empresas de mineração na região da Amazônia Brasileira, “conforma um quadro de exploração da riqueza oriunda da natureza de modo que os ganhos reais se voltam para atender à rentabilidade capitalista em detrimento das condições e modos de vida dos sujeitos históricos presentes na região para os quais sobram as consequências deletérias da forma de ser do capital e o acirramento da desigualdade local em suas muitas dimensões”. [Grifo nosso]

Outro aspecto que é imprescindível analisar, quando se discute propostas que possam promover mudanças em relação às alterações climáticas, é o entendimento da “propriedade sobre as terras como um privilégio concedido a grupos restritos, privados e ligados ao poder político. A concentração de terras adquiriu desde a [colonização] o traço determinante de exclusão de direitos. Com a colonização, o capitalismo pôde consolidar-se, tornando-se o eixo em torno do qual todas as demais formas de expropriação foram articuladas para os fins do mercado mundial. A ideia subjacente é de que o colonialismo antecedeu o capitalismo enquanto sistema mundial e o acompanhou como política em suas diferentes fases de desenvolvimento” (CASTRO, 2020). São os grandes proprietários de terras, os latifundiários, os mercadores das riquezas do território brasileiro, e os promotores da “financeirização” ambiental, via agronegócio. [Grifo nosso]
A frase inicial desse texto, destaca o dia 22 de abril como o DIA DA TERRA! Além de lembrarmos de homenagear nosso planeta, realizando ações que promovam a saúde da Terra, hoje, dia 22 de abril de 2021, foi definido o início da Cúpula do Clima, onde se reunirão 40 líderes mundiais, marcando “o retorno oficial dos EUA ao Acordo de Paris, um tratado no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU) que determina metas de redução de emissão de gases do efeito estufa, a fim de conter o aquecimento global” (RBF, 2021).

Nesse encontro, pela primeira vez na história das lutas ambientais, o Brasil estará “se colocando, desde o primeiro dia do governo Bolsonaro, como inimigo do meio ambiente e da agenda climática. Chega na Cúpula com a pior perspectiva possível, sendo um país que hoje faz parte nitidamente do problema e não da solução”, avalia Márcio Astrini, secretário-geral do Observatório do Clima (SUDRÉ, 2021). Infelizmente o Brasil, hoje, é considerado e tratado como um PÁRIA AMBIENTAL. (Grifo nosso)
O DIA DA TERRA e a reunião da Cúpula do Clima, são importantes, na medida em que chama a atenção da sociedade para as graves consequências que o modo de vida humano, que é imposto pela estrutura econômica capitalista neocolonial, tais como o consumo de produtos que atendam às necessidades criadas artificialmente pelo sistema (automóveis e seus acessórios, alimentos industriais e ultraprocessados etc.; acúmulo de “bens” tecnológicos não duráveis e não recicláveis (celulares, relógios digitais etc.), colabora intensamente, para as mudanças climáticas, consolidando os aspectos que caracterizam o Antropoceno, evidenciando o “homem como uma força geológica, competindo com as forças naturais, no impacto e modificação do planeta” (SILVA; ARBILLA, 2018). (Grifo nosso)

No caso específico da população brasileira, o DIA DA TERRA e a Cúpula do Clima, poderão promover a análise e reflexão sobre as ações / decisões que o atual governo vem tomando desde a sua posse e que interferem diretamente na forma como a maioria da população sobrevive e que impactam, assustadoramente, o ambiente: perdas de direitos (saúde, previdência, educação e trabalhista); desterritorialização dos povos originários / povos indígenas que são os cuidadores naturais das florestas; não reconhecimento dos direitos territoriais das Comunidades Quilombolas; permissão a grupos empresariais ligados às madeireiras e mineradoras, para atuarem na Amazônia; desarticulação dos Conselhos Ambientais e dos órgãos de fiscalização, como o IBAMA e o ICMBio. (MENEGASSI, 2021; RBA, 2021; SUDRÉ, 2021; ANTUNES, 2020).
É hora de tomada de decisões em defesa da nossa casa comum, a TERRA!
“Terra
Terra
Por mais distante o errante navegante
Quem jamais te esqueceria.”
(Caetano Veloso)
[1] Docente do Curso Licenciatura em Ciências Biológicas da UNEB/DEDC/CAMPUS VIII. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0838920937933125
REFERÊNCIA
ANTUNES, Paulo de Bessa. Quem compra madeira ilegal do Brasil? GenJurídico.com.br 19/11/2020. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2020/11/19/quem-compra-madeira-ilegal-do-brasil/
BARRETO, Marcos Pinheiro. A Mata Atlântica e o ensino de História: da pré-história ao período colonial brasileiro. Movimento-revista de Educação, Niterói, ano 4, n.6, p.272-305, jan./jun. 2017. Disponível em: https://periodicos.uff.br/revistamovimento/article/view/32600/18735 Acesso: 21.04.2021.
CASTRO, Luís Felipe Perdigão de. Colonialismo, terra e capitalismo: um breve panorama conceitual. Revista de Ciências Humanas e Sociais Aplicada – RCSA. Brasília, Jul-Dez, v. 1 n.2, 2020. Disponível em: http://revista.faciplac.edu.br/index.php/RECISO/article/view/735/283 Acesso: 21.04.2021.
HAURADOU, Gladson Rosas; AMARAL, Maria Virgínia Borges. Mineração na Amazônia Brasileira: aspectos da presença e avanço do capital na região. Revista de Políticas Públicas. Aprovado para publicação em 05/05/2019.
IBF. Bioma Mata Atlântica. Instituto Brasileiro de Florestas. s/d. Disponível em: https://www.ibflorestas.org.br/bioma-mata-atlantica
MENEGASSI, Duda. Cúpula do Clima deve frustrar planos de Bolsonaro de acordo com Biden. ((O))Eco. 21 de abril de 2021. Disponível em: https://www.oeco.org.br/reportagens/cupula-do-clima-deve-frustrar-planos-de-bolsonaro-de-acordo-com-biden/
RBF. PF avisa Supremo que Salles é aliado de acusados de desmatamento ilegal recorde na Amazônia. Redação Rede Brasil de Fato. 15/04/2021. Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/ambiente/2021/04/noticia-cime-ricardo-salles/
SAMPAIO, Cristiane Pires. Pau Brasil árvore que dá nome ao nosso país. Univiçosa – Centro universitário de Viçosa. 03/05/2013. Disponível em: https://www.univicosa.com.br/uninoticias/acervo/47665772-6fa6-4207-8d62-cf9196c9ecdd
SILVA, Cleyton M. da; ARBILLA, Graciela. Antropoceno: Os Desafios de um Novo Mundo. Rev. Virtual Quim. Vol 10 No. 6 . Aceito para publicação em 27/03/2018.
SUDRÉ, Lu. Brasil chega à Cúpula do Clima sob cobrança e descrédito dos líderes mundiais. Brasil de Fato. 21/04/2021. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2021/04/21/brasil-chega-a-cupula-do-clima-sob-cobranca-e-descredito-dos-lideres-mundiais
WORSTER, Donald. Para fazer história ambiental. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, vol. 4, n. 8, 1991, p. 198-215. Disponível em: http://www.nuredam.com.br/files/divulgacao/artigos/Para%20fazer%20hist%F3ria%20ambiental.pdf Acesso: 21.04.2021.